A igreja deve ou não estar no metaverso? Pastores ponderam as oportunidades e ameaças da tecnologia.
FONTE: GUIAME, LUANA NOVAESATUALIZADO: QUINTA-FEIRA, 14 DE
ABRIL DE 2022 14:41
André Valadão anunciou a abertura da Lagoinha no
metaverso. (Foto: Instagram/André Valadão)
Para a maioria das
pessoas, metaverso é uma palavra nova, que passou a ser mais conhecida depois
que Mark Zuckerberg anunciou a mudança de nome da empresa Facebook, que agora
se chama Meta.
Esta semana, a
tecnologia se tornou um assunto novo também no meio cristão. Nesta quarta-feira
(13), o pastor André Valadão estreou
a primeira igreja brasileira no metaverso — a Lagoverso, desenvolvida pelo
ministério de jogos digitais da Lagoinha Orlando Church.
Valadão anunciou
que mais de 150 avatares entraram na igreja virtual e pelo menos 10 foram à frente
e entregaram a vida para Jesus.
Mas o que
exatamente é o metaverso e como a igreja deve lidar com o futuro da internet?
O metaverso nada
mais é do que um “mundo digital”, que combina elementos da realidade virtual,
realidade aumentada e internet. Ao entrar no universo virtual, cada pessoa
escolhe um avatar para viver uma vida semelhante à real: se relacionar com
pessoas, fazer compras, ir a shows, viajar ao redor do mundo e até mesmo ir à
igreja.
Em entrevista
ao Guiame, o pastor André Valadão disse que a igreja precisa estar
presente onde as pessoas estão. “Atrás de um avatar é um ser humano e
precisamos chegar em todos”, explicou.
Ele esclarece que
a atuação da igreja no metaverso não substitui o papel fundamental dos templos
físicos. “Assim como o alimento é insubstituível, o relacionamento humano
nunca será substituído”, destacou
Em julho de 2021,
durante uma conferência virtual com grupos religiosos, a diretora de operações
do Facebook, Sheryl Sandberg, falou sobre a expectativa do envolvimento das
igrejas na tecnologia.
“Nossa esperança é
que um dia as pessoas também façam cultos nos espaços de realidade virtual ou
usem a realidade aumentada como uma ferramenta de educação, para ensinar a seus
filhos a história de sua fé”, disse Sandberg.
“Uma maneira de
alcançar pessoas”
Nos Estados Unidos, a Life.Church, liderada pelo pastor Craig Groeschel (que
desenvolveu o aplicativo da Bíblia YouVersion), tem sido
uma líder em inovação entre as igrejas americanas.
Já em 2007, a Life.Church estudava como seria a
igreja na realidade virtual. Não foi surpresa quando, em dezembro do ano
passado, a igreja adicionou um campus no metaverso.
“Esta não é a
primeira vez que realizamos cultos no metaverso. Em 2007, realizamos cultos no
Second Life, que era um ambiente virtual 3D semelhante ao que você vê hoje no
metaverso”, disse o pastor e líder de inovação da Life.Church, Bobby
Gruenewald, ao site The Christian Post.
Gruenewald disse
que se deparou com críticas, mas sustenta que a presença de igrejas no
metaverso é válida. “Existem benefícios únicos para a igreja nos espaços
digitais. É uma maneira de alcançar pessoas que talvez nunca ponham os pés em
uma igreja física”, disse ele.
André Valadão
defende o mesmo e lista alguns cuidados que a igreja deve ter para se manter
bíblica, mesmo no metaverso: “Pregar a Palavra, apontar para Jesus e buscar
usar todas as ferramentas que temos em nossa geração para falar de Jesus”.
Valadão também
acredita que os cristãos devem “evitar julgar e criticar algo que sequer
conhecem, para não passar vergonha como a Igreja já passou, falando de
instrumentos como bateria, guitarra, televisão e por aí vai.”
Gruenewald também
faz uma relação a questionamentos feitos no passado. “Quando o telefone foi
inventado, havia a preocupação de que ninguém ia mais se reunir ou sair de
casa. Esses argumentos existem há décadas, mas não se sustentam. Se o
isolamento dos últimos dois anos nos ensinou alguma coisa, é que temos um
desejo inerente do ser humano de estarmos juntos”, avaliou.
O pastor da
Life.Church acredita ainda que, no ambiente online, muitas pessoas se sentem
mais à vontade para expor suas vulnerabilidades. “A fachada física de um avatar
dá às pessoas uma sensação de anonimato, que as ajuda a se sentirem mais à
vontade para baixar a guarda. Elas vão falar sobre suas lutas contra a
depressão, dificuldades em seu casamento e outros detalhes íntimos de sua vida,
que as pessoas geralmente não falam tão facilmente em um ambiente físico.”
Mas nem todo líder
cristão está animado com a participação da Igreja na evolução da tecnologia
online.
Oportunidades e
ameaças
No site The Gospel
Coalition, o pastor Patrick Miller, que supervisiona ministérios digitais na
igreja The Crossing, fez uma crítica à inserção da igreja no metaverso. Ele
escreveu um artigo com Ian Harber, o diretor de comunicação de uma ONG no
Texas.
Para eles, o
metaverso pode apresentar oportunidades, mas também ameaças. A primeira delas é
uma possível crise de identidade.
“Se você já acha
que a sociedade luta com questões de identidade agora, se prepare”, disseram.
“As pessoas podem começar a confundir sua identidade dada por Deus com a
identidade auto-criada no metaverso. O debate sobre o transumanismo está à
nossa porta.”
Os críticos também
alertam sobre o risco de as pessoas tirarem os seus olhos da Criação de
Deus.
“Jesus chama seus
seguidores para cuidar dos doentes, visitar os solitários, fortalecer os
oprimidos e cuidar do meio ambiente. Sabemos que um mundo virtual criado por
empresas de capital aberto nunca será mais real ou importante do que o mundo
que Deus criou e chamou de ‘muito bom’”.
Por fim, ambos os
líderes temem que o metaverso se transforme em uma “torre de Babel” do futuro.
“Nossa torre de Babel futurista está nos atraindo com promessas de infinitude”,
afirmam.
“Teremos a
oportunidade de experimentar vislumbres do poder que só Deus tem. A prontidão
da informação vai nos dar um vislumbre de ser onisciente. A capacidade de criar
mundos e identidades vai nos dar um vislumbre de ser onipotente. A conquista
das fronteiras geográficas vai nos permitir estar onde quisermos a qualquer
momento, nos aproximando da onipresença”, eles argumentam.
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